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Meus leitores

Meus leitores, retorno como mil pedidos de desculpa pela ausência. Andava exercitando a pintura e escrevendo uma biografia romanceada. Retorno trazendo para vocês poemas e outras “milongas”.

Breve estarei com o meu canal no You Tube, apresentando minhas composições musicais, falando do meu autismo, mostrando o meu “casulo”, contando experiências de vida nas quais ninguém acredita e tudo o mais que me for permitido compartilhar com todo o meu público.

SEÇÃO POESIA

Uns se deitam e fazem filhos.

Outros se deitam e fazem somente amor.

Sequer nos deitamos e fazemos um livro...

... nosso gozo é o mesmo do escritor?

E quando nos deitarmos,

escreveremos o quê?

O que deixaremos impresso em nossas páginas?

Que hieróglifos? Que profecias?

Que versos terríveis de se saber feliz e mais nada?

Ou desenharemos bisões flechados?

Ou imprimiremos com as nossas patas

as marcas no sudário desse desesperado amor?

E o teu falo, o que segredará na min há caverna?

E as minhas garras e os meus caninos

e os meus urros, quantas no teu continente

trilhas perpetuarão,

para nunca mais duvidares da plenitude de uma fêmea?

Não sei e nem tu sabes.

Deitemo-nos, nas nuvens, no muro, no chão duro,

no leito macio, na página em branco, na tela vazia.

Deitemo-nos.

A poesia? Ela resiste. Ela sempre sobrevive.

Os nossos corpos? Eles espargirão sinestesias.

Os sentimentos? Transcenderão.

E a carne? A carne traçará seu próprio fado.

Deitemo-nos, deitemo-nos, ainda que seja tarde,

na trama ritmada da luz da eternidade.

FOSSE PELA CARNE

Fosse pela carne,

teríamos deitado,

num palmo de mundo,

num sorriso de um teclado.

A poesia, no entanto, prefere o abstrato.

E sem nos darmos conta

fomos tecendo com os nossos medos

e audácias,

entre a maciez de fio

e o áspero dos nossos cascos,

a mais sofrida e bela mortalha de Laerte.

Ponto por ponto, traço por traço,

Enquanto lágrimas de baba

umedeciam a nossa trama.

Penélopes da modernidade

é tudo o que fomos

é tudo o que devemos ser,

nesse passeio de tentações

onde se exaspera para dominar a carne.

Se continuas Ulisses,

pouco me importa;

pouco me importam as tuas aventuras.

O verbo sempre se fará verbo.

A carne sempre finará

mais que putrefata

e o desejo que nos arde,

num voo sem limites,

terá o seu descanso

no corpo sublimado da metáfora.

Estes dois poemas fazem parte do meu livro PORQUE TE AMO – UM AMOR SEM ESPERANÇA, publicado em 2001, em Belém, com uma tiragem de apenas 100 volumes. Nesta obra eu trabalho a temática da sexualidade social, ou seja, o meu desejo e o meu prazer nunca devem ser em detrimento do sofrimento alheio. Pena que os abusadores, estupradores e os demais sem-noção não reflitam a respeito disso. Trato da renúncia amorosa. Eu tinha tudo para transar com um homem maravilhoso. Ele se atirava em meus braços, chegamos a nos beijar e um beijo que ele me deu na minha testa, depois de “compreender” que o nosso desejo carnal não deveria ser consumado, foi o beijo mais lindo que já recebi de um homem. Não posso me expressar por ele, mas, quanto a mim, esta renúncia nascida do sofrimento e da consciência ética, além de ter parido um livro de poemas acrescentou à minha existência um tom a mais de felicidade e de plenitude humana.

SEÇÃO PROSA (MUNDO PARALELO)

Minha querida Manoela,

Ainda permaneço bastante atribulado. As aulas são ótimas, mas as reuniões, embora necessárias,

nossa, como se alongam. Quando chego ao hotel, eu já estou morto de cansaço e sono.

Querida, não entendo como depois daquela cama você ainda me diz que está “molhando” a

calcinha. Faltam apenas dois meses para eu voltar para casa e ficarmos grudadinhos fazendo amor,

comidinhas e o que mais quisermos fazer. Quando eu chegar, quero essa coisinha linda e bem

assanhada. Temos uma vida pela frente e eu quero sempre fazê-la muito feliz.

Já providenciou a cortina para o nosso ambiente de estudo? A tela que seu avô nos deu, tenho a

impressão de que ficará melhor na saleta de entrada. Encontrei a panquequeira e, amanhã, se me

derem uma folga, irei atrás das outras coisas da sua lista. Da próxima vez, o curso coincidirá com as

suas férias e viajaremos juntos. Olhe, não tenho muito jeito para comprar objetos de casa, mas eu

me esforçarei para me sair bem. Estou namorando uma estatueta que fica me olhando todas as

vezes que passo em frente a um antiquário. É uma bailarina. Parece que foi esculpida tendo você

por modelo. Ela fica tentando-me em cima de um piano de cauda. É de marfim. Acho que ela saiu

de uma tela de Degas. Deve custar uma fortuna e eu devo me contentar com a minha linda e

competente bailarina.

Mês que vem é aniversário de papai, não deixe de preparar para ele o suflê de camarão. Na lista

você me pede uma carteira de couro vinho, é o presente do velho? Ela já foi comprada.

Você colocou um retrato seu na minha mala. Eu gostei, mas saiba, você está inteirinha no meu

pensamento. Sinto o seu cheiro e a sua respiração quando eu me deito e “ele” fica daquele jeito...

Minha queria Manoela, sou um home de sorte e você é a minha mulherzinha adorada. Beijos em

toda você, dos cabelos aos dedinhos dos pés.

Eduardo

Esta missiva como diria meu avô faz parte de um livro meu inédito, escrito há vinte anos: CARTAS DE AMOR. Pode ser antiquado, mas pode concorrer com os “nudes” expostos nas redes sociais; por que não?


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