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Seção de Livros do Meu BLOG

Nesta seção de Reflexões, exponho a vocês apreciações, comentários e sugestões a respeito de livros. Como minha proposta nunca será doutrinar e muito menos “enformar”, independente de listas publicadas em jornais e revistas, independente dos mais vendidos e dos mais famosos, tomo a liberdade de escolher textos que, pela minha sensibilidade de leitora comum, bem como pela minha experiência como educadora, professora e amante da literatura e da boa leitura, possam ser alcançados por uma gama bem heterogênea de pessoas. Até mesmo por aquelas ainda avessas ao hábito de ler. Digo isso porque sei o quanto apenas uma palavra, uma frase ou um texto podem ser capazes de ampliar a nossa capacidade de ler a vida, a nossa vida cotidiana, o mundo, o nosso mundo intimista ou mais distante.

Sem palavras, ainda que tropeçadas em grandes dificuldades, não conseguimos pensar, refletir e gerenciar sequer a nossa própria existência. Bons livros quase sempre nos dão um norte. Dão-nos pelo menos uma direção, ainda que esta se apresente em forma de dúvida, de anseio, de angústia ou de um leve prazer que mal sabemos interpretar. Não importa. A cada sacolejo provocado por algo que poderá nos surpreender com euforias ou até nos entediar, já teremos deixado para trás um pouco da inércia cerebral que tanto nos limita, impedindo-nos de agirmos com mais fundamento e com maiores possibilidades de acerto.

 

Aos treze anos de idade, eu lia Machado de Assis. Minha experiência de vida ainda tão insuficiente e minha escolaridade ainda tão limitada impossibilitavam-me que eu pudesse tirar maiores proveitos dessa leitura. Consultava mais o dicionário que lia e entendia o extraordinário mestre. No entanto, a tarefa não foi em vão; aprendi palavras novas. Muitas. Lá adiante, estudante de Letras, os textos machadianos me vinham à mente como meus velhos companheiros. A cada releitura dos mesmos, com mais acuidade e já com certo senso crítico, passava a conhecê-los melhor. Tal conhecimento me tirava, um a um, todos os véus que me cegavam para a realidade da vida.

 

É assim o “milagre” da leitura. Se não lemos, fica mais difícil nos situarmos no mundo e dele    fazermos parte atuante e modificadora. Sem leitura passamos facilmente a ser manipulados e, assim, perdemos a condição de nos tornarmos singulares para nos tornarmos ninguém a ser dominado e levado pela força e pelo poder de tudo e de todos que a nós se apresentam.

Estreio com “vivemos mais! vivemos bem? Por uma vida plena”, de Mário Sergio Cortella e Terezinha Azerêdo Rios.

Da página 7 à página 100, lemos e aprendemos com a conversa entre os dois escritores. A sensação é de estamos sentados com eles em confortáveis cadeiras de balanço trocando ideias, experiências, proseando, jogando conversa fora. Vez em quando, um cafezinho, um suco de fruta, um pãozinho honesto, um copo com água. Claro está que, quanto maior for o nosso grau de leitura e mais experiência de vida tivermos, mais interessante o livro se torna. Cortella é manso. Ele nos diz tudo, com uma dose de ternura e de humor, que até o mais ácido conteúdo nos chega de forma cortês. O filósofo sempre é contaminado pelo educador e nós leitores somos premiados. Terezinha Rios segue costurando suas palavras, suas experiências textuais com as de Cortella. Sem pressa e generosos um com o outro, ambos os autores tratam a temática da longevidade sem imposições, mas, embora desenvolvida e sustentada por um embasamento de sabedoria e erudição, tudo é dosado de tal maneira a se tornar simples e plenamente acessível ao leitor. Este, enfatizo, torna-se participante da conversa e, quanto mais participa, mais aprende e compreende que sermos longevos é muito bom, desde que nos preparemos para isso. Viver mais e bem exige que, a cada fase da vida, os indivíduos, as sociedades e os governos tenham a consciência de que é no presente, com boas condições e oportunidades, que se criam as perspectivas de uma longevidade aprazível, coerente e convincente. O título do livro é um questionamento e, a partir daí, já estimula o leitor a refletir o tema. E assim deve ser, pois todos nós precisamos ser responsáveis por essa tal vida mais longa. Viver mais, ao mesmo tempo que nos estimula, pois, a despeito de qualquer agrura, é tão bom viver, assusta-nos. O livro em questão, acredito, ajuda-nos a lidar melhor com a longevidade que se inicia muito cedo, ainda na infância.

Walkyria das Mercês

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