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CRÔNICAS BELENENSES - FÁBRICA PALMEIRA – A CONFEITARIA DE BELÉM

Quem a conheceu sabe o valor das palavras que seguem. Quem for mais jovem, com certeza, se não consultar o Google, no mínimo ficará intrigado. Isso existiu em Belém? Pois é, e que linda e majestosa era a Fábrica Palmeira, nem parecia que estávamos em Belém. Será que foi por isso que a derrubaram? Um prédio enorme, todo afrancesado, com suas portas e janelas que convidavam o povo a chegar mais perto. Entrávamos e aquele mobiliário, aquelas vitrines nos abraçavam e nos deixavam perdidos diante de tantas delícias. Ficava difícil escolher o que degustar, devorar ali mesmo, ou para fazer as duas coisas no aconchego do lar. Mas, ali, era uma espécie de lar dos paraenses. Biscoitos, pães, bolos, doces, bombons, café, licores e tantos outros produtos de encher os olhos e satisfazer o paladar. E, acreditem, um espaço democrático. Um ambiente que acolhia todos, mais todos, sem vestígio de discriminação. Dizem que Belém é a terra do “já teve”. Considerando o extermínio da Fábrica Palmeira, sou obrigada a aquiescer diante dessa frase tão nostálgica. Minha confeitaria tatuada na minha memória. Garoto ainda eu já frequentava esta magnífica fábrica. Meu avô materno, meu pai e minha mãe sempre me levavam para merendar na Palmeira. Eu, já muito chegado aos doces e às demais guloseimas, ficava contando as horas até o momento de sair de casa rumo à Generalíssimo Deodoro, pegar o ônibus Circular, descer na Manoel Barata e seguir a pé até àquele paraíso gastronômico fantástico. Fosse ou que fosse que os adultos comprassem para mim, eu tratava de render o máximo que podia, só para ficar naquele paraíso feito de delícias. Eu observava tudo. Fascinavam-me as escadas, os funcionários, homens e mulheres, todos devidamente uniformizados, numa movimentação alucinante, carregando formas, tabuleiros e produtos embalados. E, em meio a esse espetáculo de aromas, cores e sabores, quando me chegava aos ouvidos um sotaque europeu de um francês, italiano ou espanhol, não sei, não sei descrever a sensação que me invadia corpo e alma. Olhava para minha mãe, minha perfeita cúmplice naquele êxtase, e ela me sorria. Lindamente, ela cantava “La vie en rose”, Arriverderci Roma” e “ Violín gitano”. Era a minha cantora preferida. Minha mãe era romântica e a vida caminhava sem acidez e dramas, pois ela sabia temperar os dias com a suavidade de sua voz que me serenava, e com a indulgência de seus olhos que me faziam enxergar somente o que era para ser visto. Era assim mesmo que acontecia, quando estávamos na Palmeira. Vivenciávamos uma privilegiada extensão inusitada dos nossos pequeninos dias. Para mim, naquele santuário de prazeres estéticos e palatáveis, realidade e fantasia davam-se as mãos. Essa experiência valia mais que muitas aulas e me foi bastante útil no curso superior. Quantas crianças, jovens e adultos poderiam estar sentido pelo menos um pouco do que a Fábrica Palmeira me fazia sentir. No entanto, sem que o paraense pudesse impedir, pois o poder sabe exercer o seu domínio, seja ele em prol ou contra o povo, destruíram o prédio, antes, claro, que ele fosse tombado. A Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro, resiste. Por que será que A Fábrica Palmeira não resistiu?


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