top of page

CASO JOSÉ MAYER


CASO JOSÉ MAYER


De início, ressalvo, cada caso é um caso. O que José Mayer fez contra a figurinista é crime e deve ser tratado como tal. Se há ou haverá atenuantes, desculpas e perdões, não cabe a mim entrar nesse mérito.


Não se tem dúvida de que as mulheres sempre são as mais assediadas. Machismo, educação familiar errônea que não favorece a isonomia de gêneros e o respeito entre estes, ranços do patriarcalismo e outros fatores políticos, sociais e culturais contribuem para que comportamentos desrespeitosos e aviltantes, em geral masculinos, permaneçam e até recrudesçam, como se constata nos noticiários que mostram o massacre diário contra a cidadã brasileira.


Minha presença aqui, resume-se a uma carta aberta ao ator José Mayer.


José Mayer,


Há muito, sou admiradora do seu desempenho como ator. Quando soube que era formado em Letras, senti-me mais próxima de você, pois também tenho esta formação. Não trabalho como atriz porque a dramaturgia ainda não me descobriu.


Meu querido e grande ator, você errou. E feio. Os livros, o teatro, as novelas e os filmes ainda não foram suficientes a ponto de você deixar de ser um homem “mutilado”. Ou seja, você ainda não se superou dos ranços culturais e sociais que oprimem sua “porção mulher” e fazem-no um homem pela metade. Você é um Don Juan pós-moderno, bruto e sem autodomínio. E o homem e a mulher que não conseguem dominar o que existe no meio das próprias pernas, que não conseguem dominar os próprios instintos, pode estar certo, arriscam-se a perder família, amigos, carreira profissional, emprego, fama, dinheiro e a tão valiosa autoestima.


Malgrado o acontecido e tudo o que veio à tona, ainda é tempo de se corrigir e de se elaborar. Comece por assumir a sua culpa, exigindo de você mesmo pagar por aquilo que fez contra a figurinista Susllen Tonani. Conforme alarde da mídia, esta sua falha, hoje criminalizada, não é de agora. Quanto mais você se defender, mais aumentará o seu erro, pois contra os fatos não há justificativas. E também peça aos familiares e amigos que não apresentem em sua defesa. Defendê-lo de quê, José Mayer? Você que teve a pujança audaciosa e deliberada de colocar sua mão esquerda na vagina de uma colega de trabalho, precisa desse tipo de defesa?


Poupe sua esposa disso. 45 anos de casamento de fato não são 45 dias. Ainda bem, pois, quando se está casado há tanto tempo com a mesma pessoa, denota que pelos menos alguém sabe ponderar, ceder, acatar e ver os fatos com mais naturalidade, até. Fossem apenas 45 dias de relação, huum, o bicho iria pegar de tal maneira que você não faz ideia. Ou faz? Sorte sua ainda estar casado com uma pessoa sensata que defende a empresa familiar. Sim, porque relação sexual, depois de 45 anos de casado com a mesma pessoa, corrijam-me se eu estiver errada, já escorreu pelo ralo ou subiu para o espaço. Certa vez ouvi uma frase parecida dita pela Glória Menezes. Ela disse, em uma entrevista, que não era uma “trepadinha” que iria acabar com um casamento de tantos anos. Hillary Clinton também defendeu seu maridão, evitando que ele fosse destroçado. Veja como a vida é irônica; a considerar a “trepadinha” e o caso escandaloso dos Clintons, você, que só usou a mão esquerda, encontra-se aí, nesse ora veja danado. É que os tempos são outros.


Os tempos são outros, José Mayer, e por isso a Globo, tal como o Boni gostaria, não conseguiu abafar o caso. As Redes Sociais nos desafiam a continuarmos a jogar nossas sujeiras para debaixo do tapete, sem pagarmos o ônus pelas nossas leviandades e ilicitudes. Lá em Brasília, talvez porque os poderes são mais podres, insistem em agir assim, mas você, José Mayer, você não é um daqueles calhordas que surrupiam o bem-estar do povo e dos que mais precisam, crianças, idosos, mulheres, negros e desvalidos. Você terá, sim, a altivez de se retratar condignamente perante o Brasil e o mundo. Honre o que lhe vai entre as pernas e passe a ser medido do pescoço para cima.


Como eu gostaria de ouvir você cantando em rede social “SUPER-HOMEM – A CANÇÂO” de Gilberto Gil, e a partir daí, passar a respeitar e a amar todas as vaginas. É tão simples respeitar o outro; basta que eu, você e todos se respeitem.


Vai, José Mayer, o que você fez não foi uma brincadeira. Você tem plena consciência disso. Você não pode continuar sendo movido à teoria “Prendam as suas cabras que o meu bode vai sair”.


Os tempos são outros e homens e mulheres, quanto mais conquistarem a isonomia de gêneros, mais terão de se ajustar. O dia em que homens tiverem a coragem de lançar fora a couraça de machão e comedor, muito assédio sexual praticado por mulher também virá à tona. Ou não existem mulheres que assediam sexualmente os homens? Claro que existem. Em número, talvez menor, mas existem. Desafio um homem brasileiro a se queixar publicamente que uma colega de trabalho passou a mão no pênis dele. Ah, mas isso não acontece, mesmo. Homem brasileiro não se queixa disso nem para ele mesmo e nem para o Deus Nosso Senhor. Por quê? Porque para ele trata-se de uma questão de orgulho. “Ela dá me dando mole”. Sabe aquela canção do Seu Jorge, “Amiga da minha mulher”? Pois é.


Gente grande, pegar com consentimento, tudo bem. Forçado, Zé Mayer, faça-me o favor.


Como somos machistas e bem cafajestes, acreditamos que “vai que pega”, aí pode dar nisso. E ainda tem gente que deve estar dizendo, “Dispensar um homem desses..., como assim”? Pois é, Seu Jorge, o filósofo da MPB, explica, mas quem julga é a Justiça e esta deve ser justa e cega. Você me entendeu, José Mayer?


“Um dia, vivi a ilusão de que ser homem bastaria,

Que o mundo masculino tudo me daria,

Do que eu quisesse ter...”

Assuma de verdade, José Mayer, e mude para melhor.


“mutilado” > Leia “Sobre a Identidade Masculina” de Elisabeth Badinter.

“porção mulher” > Cante “Super-Homem, a Canção” de Gilberto Gil.


WALKYRIA DAS MERCÊS


Destaque
Tags
Nenhum tag.

Parabéns! Sua mensagem foi recebida.

bottom of page